Margem | Espetáculo de Teatro e Dança
Fotografia @Manuel Roberto |
Hoje damos mais um olhar ao passado recente e revisitamos Margem, de Victor Hugo Pontes. Este espetáculo de teatro e dança estreou a 27 de janeiro deste ano e esteve em cena no CCB até 1 de fevereiro, tendo em seguida partido para outras paragens nacionais.
Nas palavras dos autores:
«Margem tem como inspiração o romance de 1937 de Jorge Amado, Capitães da Areia, que retrata um grupo de crianças e adolescentes abandonados que vivem nas ruas de São Salvador da Baía, roubando para comer, e dormindo num trapiche – um armazém onde, como uma espécie de família, se protegem uns aos outros e sobrevivem a um dia de cada vez.
Oitenta anos depois da publicação do livro, interessa-me sobretudo questionar quem são os novos capitães da areia, inspirando-me na realidade social destas crianças, e consciente de que nem sempre há finais felizes.
Quem são estas pessoas que são colocadas à margem, e quando é que essa marginalização começa?
Na casa de partida da vida, temos todos as mesmas hipóteses ou alguns partem para a luta já em défice? Há formas de quebrar isso? Quais? A sério? De certeza? Será realmente admirável o mundo novo que conseguimos construir com todos os nossos ideais de igualdade para todos?
Numa ideia de teatro documental, e em colaboração com Joana Craveiro, este projeto será alicerçado num trabalho junto de jovens que foram privados do ensino, da alimentação, de carinho, de um pai, de uma mãe, jovens que cometeram crimes, jovens que partiram em défice ou que se viram em défice por razões que muitas vezes lhes são alheias. Jovens e crianças que, não obstante, continuam a lutar pela sua liberdade, e, nalguns casos, para inverter o tabuleiro do jogo – o tal onde, lado a lado, na casa de partida, já éramos diferentes uns dos outros, como uma fatalidade.»
Nas palavras dos autores:
«Margem tem como inspiração o romance de 1937 de Jorge Amado, Capitães da Areia, que retrata um grupo de crianças e adolescentes abandonados que vivem nas ruas de São Salvador da Baía, roubando para comer, e dormindo num trapiche – um armazém onde, como uma espécie de família, se protegem uns aos outros e sobrevivem a um dia de cada vez.
Oitenta anos depois da publicação do livro, interessa-me sobretudo questionar quem são os novos capitães da areia, inspirando-me na realidade social destas crianças, e consciente de que nem sempre há finais felizes.
Quem são estas pessoas que são colocadas à margem, e quando é que essa marginalização começa?
Na casa de partida da vida, temos todos as mesmas hipóteses ou alguns partem para a luta já em défice? Há formas de quebrar isso? Quais? A sério? De certeza? Será realmente admirável o mundo novo que conseguimos construir com todos os nossos ideais de igualdade para todos?
Numa ideia de teatro documental, e em colaboração com Joana Craveiro, este projeto será alicerçado num trabalho junto de jovens que foram privados do ensino, da alimentação, de carinho, de um pai, de uma mãe, jovens que cometeram crimes, jovens que partiram em défice ou que se viram em défice por razões que muitas vezes lhes são alheias. Jovens e crianças que, não obstante, continuam a lutar pela sua liberdade, e, nalguns casos, para inverter o tabuleiro do jogo – o tal onde, lado a lado, na casa de partida, já éramos diferentes uns dos outros, como uma fatalidade.»
- Victor Hugo Pontes (in folha de sala do espetáculo)
Trailer Margem | Vitor Hugo Pontes
"Falava Brecht de margens e nós socorremo-nos dessa mesma
expressão.
Usamos «margem» como quem usa uma metáfora do que é estar-se
não no centro dos acontecimentos, mas na periferia deles, da vida. Neste
espectáculo, partimos de um livro para ir para além do livro; partimos de um
livro como quem parte de um mapa, um guia para o caminho. Fizemo-nos perguntas
sobre o que pode significar hoje esse livro – outrora banido na tal «noite» de
que Jorge Amado fala (nós, por aqui, também tivemos uma outra noite de 48 anos,
sabemos do que ele fala).
Fizemo-nos perguntas sobre todas as vezes em que nós
próprios nos colocamos nas margens ou nos colocam, e se o estar-se na margem é
algo que nos acontece, ou com que nascemos, ou em que nos tornamos.
Falamos aqui, claro, da possibilidade ou não da transformação
das circunstâncias em que nascemos ou daquelas em que nos encontramos. E nós
acreditamos, ainda acreditamos, na possibilidade dessa transformação. E no
questionar de certas hegemonias, e desse olhar tão eurocêntrico que nos define,
enquanto europeus e «descobridores do mundo» e que é também aqui questionado.
Vale a pena perguntar que mundo foi este que tão orgulhosamente criámos ou ajudámos
a criar – desigual, acima de tudo – e o que fazer com todos esses legados de
dor e abandono.
Margem trata de um encontro entre a linguagem coreográfica de
Victor Hugo Pontes e de uma obra literária, que é também uma obra política;
sobrepõe a isso encontros e entrevistas conduzidas com jovens
institucionalizados e outros, no Instituto Profissional do Terço e no Centro de
Educação e Desenvolvimento de Pina Manique – Casa Pia de Lisboa, numa tentativa
de perceber universos de abandono e carência. Por fim, junta-lhe as memórias e
experiências dos próprios intérpretes e do seu processo na construção deste
espectáculo.
E coloca-os face a uma banda sonora urbana, tribal, urgente,
feroz por vezes, e que bebe de muitas raízes. Porque às margens dão muitas
raízes – abandonadas, curvadas, secas (assim como muitas outras coisas que
ninguém quer); porque das raízes e da falta delas se constroem tantas margens,
tantos muros."
- Joana Craveiro (in folha de sala do espetáculo)
(A autora escreve segundo a antiga ortografia)
Fotografia @José Caldeira |
Após ter estreado no Centro Cultural de Belém, Margem passou também por Braga (Theatro Circo) e Torres Novas (Teatro Virgínia) e estará em breve em cena no Teatro Municipal do Porto - Campo Alegre, nos próximos dias 16 e 17 de Junho.
Depois da tournée, Margem regressará à casa de partida, ainda mais maduro, para mais três apresentações no CCB em 2019.
Fotografia @José Caldeira |
Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.
Bertolt Brecht
Victor Hugo Pontes | Direção
Nasceu em Guimarães, em 1978. É licenciado em Artes Plásticas - Pintura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Desde então, vem consolidando a sua marca coreográfica, tendo apresentado o seu trabalho por todo o país, assim como em Espanha, França, Itália, Alemanha, Rússia, Áustria, Brasil, entre outros.
Com o espetáculo A Ballet Story, foi nomeado, em 2013, para os Prémios SPA na categoria de Dança – Melhor Coreografia.
Integrou o programa DanceWeb 2017 do Festival ImPulsTanz em Viena, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, onde trabalhou com Jan Fabre, David Zambrano, Doris Uhlich, Benôit Lachambre, entre outros.
É, desde 2009, o Diretor Artístico da Nome Próprio – Associação Cultural.
Joana Craveiro | Texto
Encenadora, atriz, dramaturga.
Fundadora e diretora
artística do Teatro do Vestido (2001-), onde dirigiu
e escreveu mais de 30 criações.
A relação entre os
acontecimentos históricos e as suas representações
no presente, bem como a recolha de memórias
e histórias de vidas, e as cartografias poéticas e
afetivas das cidades são algumas das questões
a partir das quais tem trabalhado e investigado.
Colaborou pela primeira vez com Victor Hugo Pontes
em 2012, partilhando com este claras afinidades
metodológicas e artísticas.
Direção Victor Hugo Pontes
Texto Joana Craveiro
Interpretação Alexandre Tavares, André Cabral, David S. Costa, Hugo Fidalgo, João Nunes Monteiro, José Santos, Magnum Soares, Marco Olival, Marco Tavares, Nara Gonçalves, Rui Pedro Silva e Vicente Campos
Parcerias Centro de Educação e Desenvolvimento de Pina Manique - Casa Pia de Lisboa, Instituto Profissional do Terço e APISAL
Uma encomenda CCB/Fábrica das Artes
Fotografia @José Caldeira |
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